AIDS e Pessoas com Deficiência.

25/06/2007 - De Igual para Igual.

Bom dia ouvintes, hoje estamos aqui com Marta Gil e no dia dos namorados vamos falar de AIDS e Deficiência. O e-mail anapaulacrosara@gmail.com está a disposição para sugestões, críticas e dúvidas e também para o envio do texto transcrito para aqueles ou aquelas que não conseguem ouvir ou têm dificuldade de audição e que gostariam de ser incluídos. Caso você não tenha acesso a internet, o telefone do meu escritório de advocacia (34) 3212 3866 está à disposição.

Ana Paula Crosara de Resende: Marta bom dia.

Marta Gil:
Bom dia Ana Paula.

Ana Paula Crosara de Resende: Obrigada por aceitar o nosso convite mais uma vez.

Marta Gil: Imagina,é um prazer enorme estar conversando com você e seus ouvintes, eu agradeço muito.

Ana Paula Crosara de Resende: Então Marta, como é que está sendo ser intercambio entre o movimento de pessoas com deficiência e o movimento de AIDS.

Marta Gil: Ele está começando. Eu acho que do que eu sei, ele começou em 2005.

Ana Paula Crosara de Resende: Bem começo mesmo, né?

Marta Gil: É muito recente. E está caminhando porque o movimento de AIDS é um movimento bastante recente, tanto aqui no Brasil como nos outros países e ele teve que se fortalecer muito rapidamente em virtude da própria natureza da AIDS.

Ana Paula Crosara de Resende: Certo.

Marta Gil: E ele passou por várias etapas, a primeira etapa era uma etapa de prevenção e rapidamente uma etapa de apoio, e depois a etapa seguinte foi a etapa da manutenção, à medida que os remédios foram sendo, (coquetel e outros remédios), desenvolvidos e disseminados.

Ana Paula Crosara de Resende: Sei.

Marta Gil: E agora o movimento de AIDS está percebendo que ele está começando uma terceira fase. Assim, se a gente puder dividir em grandes fases, que é a fase da sobrevida. Graças a Deus, à AIDS e a todos esses remédios e a todos esses esforços e políticas públicas. A AIDS está deixando de ser uma doença que mata, que muitas vezes matava rapidamente, para se transformar numa doença crônica. Isso significa que as pessoas estão tendo mais tempo de vida e aí outras questões começam a se colocar, como por exemplo, a questão da qualidade de vida. Se a pessoa tem um horizonte de vinte, trinta anos pela frente, ela vai querer ter uma boa qualidade de vida.

Ana Paula Crosara de Resende: Sei.

Marta Gil: E isso é muito semelhante com o que o movimento das pessoas com deficiência, principalmente a deficiência mental, estão dizendo também. Até trinta, quarenta anos atrás, principalmente as pessoas com síndrome de Down, tinham um período de vida muito curto e agora elas estão tendo um período de vida muito mais longo. Então, os pais, os profissionais e o pessoal que trabalha na área está se mobilizando para também cuidar da sua qualidade de vida, para cuidar de alternativas de moradia. Então, o que a gente percebe é que esses movimentos tem muito à aprender um com o outro.

Ana Paula Crosara de Resende: Com certeza. Marta, nós divulgamos há um tempo atrás aqui em nosso programa um evento que teve na Argentina, em Buenos Aires, que era exatamente com esse tema; AIDS e Deficiência. Você esteve lá, conta para gente como é que foi, o que saiu de proposta.

Marta Gil: Então, ele foi um evento bem grande mesmo, muito importante, ele teve uma abrangência de América Latina e teve duas situações específicas de AIDS e Deficiência que é o nosso foco de hoje. Uma delas foi uma vídeo conferência. A vídeo conferência estava sediada em Buenos Aires e em Nova York. Em Nova York nós estávamos interagindo com a Rosângela Berman Bieler, que foi uma das pessoas que começou a trabalhar e alertar para esse tema que pessoas com deficiência podem adquirir AIDS e pessoas que não têm deficiência, muitas vezes em decorrência da AIDS, adquirem uma deficiência. E foi uma vídeo conferência bastante proveitosa. nós tivemos uma média de trinta pessoas - assim para uma vídeo conferência é bastante ; tivemos vários dirigentes do Banco Mundial que estão envolvidos nessa questão, principalmente o pessoal que trabalha em Honduras. Honduras é o país da América Latina, embora muito pequenininho, que proporcionalmente é o que tem maior número de casos de AIDS. Há muitas comunidades e comunidades segregadas. então, como elas ficam fechadas entre si, elas acabam se contaminando. Eles estavam falando da postura do banco e como o banco cada vez mais está interessado em ter dados. A gente ainda não tem quase nenhum. São muito poucos os dados que a gente tem sobre AIDS e deficiência. E qualquer pessoa, qualquer dirigente, para tomar uma iniciativa precisa de dados na mão. Então, eles estavam alertando para a gente tentar produzir dados e, principalmente, dados por tipo de deficiência. Porque o que está se percebendo, mas a gente ainda não tem muitas evidências, é que pessoas surdas têm mais probabilidade de serem contaminadas pelo vírus da AIDS.

Ana Paula Crosara de Resende: É, talvez seja pela dificuldade de comunicação mesmo, né?

Marta Gil: É o que se imagina sim; você tem uma grande dificuldade de comunicação e você não tem materiais adequados, e por outro lado, é uma comunidade que fica bastante fechada em si mesma, justamente pela dificuldade de comunicação.

Ana Paula Crosara de Resende: Esses ciclos, eu vou te contar...

Marta Gil: Então, uma pessoa que tem o vírus tem a possibilidade de contaminar outros.

Ana Paula Crosara de Resende: Marta, eu sei que você também é uma das moderadoras da lista AIDS e Deficiência, lista de discussão na internet. Como é que está isso aí? As pessoas estão participando?

Marta Gil: A gente está. Nós tivemos uma boa participação e agora a lista estava prevista para terminar no fim de abril, mas como as pessoas ainda estão participando e estão muito interessadas, enfim, obviamente não vamos fechar esta lista. Das participações, eu acho a que me chamou mais atenção foi um projeto do Rio Grande do Sul. O projeto que se chama "Diferença em Cena" e é coordenado pela professora Dra. Sônia Hoffmann, que é cega. Ela é professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e ela também trabalha com a Secretaria da Saúde e eu achei muito interessante. Até uma das últimas mensagens ela estava descrevendo bastante, detalhadamente, a forma de atuação dos interesses do "Diferenças em Cena".

Ana Paula Crosara de Resende: Bom, eu sou obrigada abrir para as suas considerações finais porque o nosso tempo está esgotando. Sempre assim né Marta?

Marta Gil: Além de agradecer a atenção de você e dos ouvintes, eu queria deixar claro essa questão de como é importante a gente trabalhar a questão da sexualidade, a questão da informação, do respeito ao nosso corpo e lembrar que as pessoas com deficiência são antes de tudo pessoas, que tem desejos, que tem tesão, que tem sonhos como todos nós.

Ana Paula Crosara de Resende: Isso é muito importante. Eu queria então, Marta, agradecer mais uma vez a sua participação, e lembrar para os nossos ouvintes que o e-mail anapaulacrosara com "s", crosara escreve com "s" @gmail.com está a disposição para sugestões, críticas e dúvidas e para o envio do texto transcrito para aqueles ou aquelas que não conseguem ouvir ou têm dificuldade de audição, mas que gostariam de ser incluídos. Caso você não tenha acesso a internet pode ligar no meu escritório de advocacia (34) 3212 3866. Até a próxima semana.


De Igual para Igual - maio/2007.