Meu Pai Não Consegue Encarar-me de Frente.

15/01/2002 - Carlos Alberto de Castro.

Fui interno nove anos (dos sete aos dezesseis) em uma instituição de educação especial para cegos. Este internato ficava na capital (Salvador) e lá aceitava alunos de todas as cidades e até de alguns estados vizinhos.

O período anual de internato obedecia o calendário escolar. Durante as férias o interno regressava à residência.

Havia pais que moravam em Salvador e colocavam o filho no internato e só iam vê-lo na época de férias. Em minha época constatamos casos de dois internos que foram deixados no internato e saíram ao completar dezoito anos sem terem sido procurados pelos pais.

Há uma expectativa por parte dos pais que, ao gerar um filho, ele tenha todas as características de "um ser perfeito" e, quando isso não acontece, em uma quantidade considerável de casos, nos deparamos com duas opções: ou superproteção ou rejeição. No meu caso, foi de rejeição por parte do pai e uma certa superproteção por parte da mãe.

Aos sete anos, meu pai e minha mãe se separaram e eu fui para Salvador (acho que foi o melhor para mim: compreendi desde cedo que teria que me virar. Aí, o internato foi importante, pois com a convivência em grupo a rejeição por parte do meu pai não encontrou guarida.

Hoje paro e considero esta questão resolvida. Tenho duas filhas lindas e me sustento sendo perfeitamente integrado à sociedade que faço parte. O meu pai até hoje não consegue encarar-me de frente. Gostaria de fazer alguma coisa por ele. Tenho tentado mas ele se fecha em seu mundo (aliás no que tem todo direito).

Independente de um filho ter ou não uma deficiência, no Nordeste pelo menos, em grande parte dos casos, o pai com o pretexto que ao trabalhar fora está cumprindo com a sua função, se omite muito na educação dos filhos, bem como na assistência em casa (apoiando-se no cansaço).

O tema é extenso, escola e pais de pessoas com deficiência, educação especial ou inclusiva? Este é o "admirável mundo cego".

Abraços,

Carlos.