Indústria, Pessoas com Deficiência e Trabalho.

11/11/2003 - Henry Ford.

"Com extrema facilidade nos inclinamos a crer, sem investigação alguma, que a perfeita posse de todas as faculdades constitui a condição para o melhor rendimento em qualquer classe de trabalho. Com o intuito de fazer um real juízo disto, mandei classificar todas as diversas operações da fábrica, segundo a espécie de máquina e do trabalho"

... A estatística demonstrou que se contavam na fábrica 7.882 espécies distintas de operações... Comprovou-se, então, que 670 trabalhos podiam ser confiados a homens sem ambas as pernas; 237 requeriam o uso de uma só perna; em dois casos podia-se prescindir dos dois braços. Em 715 casos de um braço, em dez casos a operação podia ser feita por um cego. Das 1.882 espécies de trabalho havia portanto 1.634 que não exigiam o uso completo das faculdades físicas. Por conseguinte, uma indústria, sabiamente desenvolvida, é capaz de proporcionar ocupações a um avultado número de pessoas, devidamente pagas, que habitualmente pesam sobre a comunidade."

O regulamento foi publicado a 12 de janeiro de 1924. Nele vinham as declarações de que ninguém seria rejeitado em vista de suas condições físicas: "Uma vez colocados no posto conveniente, conseguem fazer o mesmo trabalho que os outros, quando não os excedem em atividade. Assim, por exemplo, um cego foi colocado no armazém com a obrigação de contar parafusos e porcas para remessa às sucursais. Na mesma ocasião se confiou o mesmíssimo trabalho a outros operários sensorialmente perfeitos. Dois dias depois o mestre das obras enviava uma nota à seção das transferências, pedindo que se desse outro serviço aos demais, porque o cego era capaz de fazer o trabalho dos companheiros além do seu próprio."

"Um cego ou um amputado é capaz de efetuar o mesmo trabalho e ganhar o mesmo salário de um homem completamente são. Seria inteiramente oposto aos nossos fins que procurássemos dar colocação aos operários em vista dos seus defeitos físicos, com salário reduzido, contentando-nos com um tipo baixo de produção. É um desperdício empregar um homem perfeito num trabalho que pode ser executado por um homem com deficiência. É desperdício horrível meter cegos a trançar cestos."

"Nas sessões da indústria há postos para todos e, se a indústria estiver devidamente organizada, haverá nela mais lugares para cegos do que cegos para lugares. O mesmo pode dizer-se em relação aos outros trabalhadores com deficiência. Em todos esses ofícios, o homem, que hoje é objeto de compaixão da caridade pública, pode ganhar a sua vida com o mesmo direito e dignidade do operário mais hábil e robusto."

"... Se o trabalho fosse convenientemente dividido até ao mais insignificante ponto da economia, não faltaria lugar onde homens com deficiência pudessem desempenhar perfeitamente um serviço e receber, por conseguinte, um salário completo. Economicamente, fazer desses homens um peso para a humanidade é o maior despautério, como também lhes ensinar a fazer cestos ou qualquer outro mister pouco rendoso, com o fim de preveni-los contra o desânimo."


Do livro: Minha Vida e Minha Obra. Henry Ford (1863-1947). Fundador da fábrica de automóveis Ford.