Agricultor com Deficiência Visual em Assaré, Ceará.
A deficiência visual não é empecilho para José Eduardo, de 57 anos, e seus quatro irmãos agricultores desempenharem suas atividades. Eles estão acostumados a laçar bois, alimentar e cuidar dos animais doentes e até fazer partos.
No sítio onde mora, na zona rural de Assaré, na Região do Carirí, José Eduardo faz de tudo: leva os animais para o pasto, cuida de manter limpo o curral, tira leite das vacas e até faz partos. Nada incomum para um sertanejo com visão. Já para Eduardo, 57, chegar a desempenhar bem essas tarefas custou um tempo. Ele é deficiente visual assim como os quatro irmãos que moram no mesmo local, a 12 quilômetros da sede de Assaré no sítio Duarte Barbosa.
Meu sonho era montar um cavalo e sair pelo sertão olhando as plantações, os animais, as fontes de água. Se pudesse teria estudado para ser um veterinário".
Eduardo fala, mas não com tristeza, porque diz aceitar a deficiência que surgiu quando era um garoto. "Naquela época (década de 50) gostava de brincar de laçar os animais, de correr pelo sítio. Um dia senti, numa brincadeira, que estava ficando cego. Foi assim também com os meus irmãos".
O sítio onde eles vivem tem uma área de 47 hectares . Ali criam gado e plantam milho, arroz e feijão. "Uns ajudam os outros", diz Jackson Antero, o chefe da Área de Proteção Ambiental (APA) da Chapada do Araripe, que conhece a família. Os irmãos dizem que a perda da visão, quando crianças, foi devido à glaucoma. "Aqui era tudo muito difícil quando a gente era menino, e não tinha médico para se tratar. Agora não tem mais jeito", diz Eduardo.
As terras onde têm suas casas era do pai, que morreu há sete anos. Ele não se conforma é com o que diz "sofrer nessa vida", que é a discriminação das pessoas. Ninguém nos respeita e nem valoriza. A gente vive e trabalha com o nosso próprio esforço e sem a ajuda de ninguém".
Eduardo é casado e pai de quatro filhos, e diz agradecer a Deus porque a família não tem deficiência visual. "Eles não sentiram o mesmo que nós para aprender a sobreviver sozinhos". Eduardo recorda que penou muito no curral e nos campos cuidando das vacas e bois. "Hoje conheço o animal pelo cheiro e, mesmo sem enxergar, levo todos para o pasto e trago de volta para o curral", afirma.
Rita Célia Faheina - Jornal O Povo - Ceará - em 09/07/2007.