Preconceitos e Cidadania.

02/02/2006 - Jairo da Silva.

Muitas pessoas não conhecem um cego, menos ainda nossas capacidades e limitações, tirando conclusões precipitadas a nosso respeito. Todos sabemos que o preconceito não é boa coisa. O senso comum crê que pessoas com algumas limitações não são capazes de exercer um papel digno na sociedade, nos tratando como se fôssemos coitados. Por outro lado, quando percebem que trabalhamos, estudamos, em fim, levamos uma vida socialmente comum, somos tachados de heróis. Lamentavelmente, não nos olham com naturalidade.

Poucos sabem que uma pessoa cega, ou com baixa visão, pode fazer inúmeras atividades. Tais como: Rapel, canoagem, vôo em queda livre, navegar na internet, trabalhar em escritórios, assumir cargos importantes em uma determinada empresa...

E a vida pessoal deste cego como fica? Na verdade, quando uma pessoa cega se casa, é comum observar espanto por parte das pessoas em geral, muitas vezes até por parte da própria família, que vê esta pessoa com deficiência como ser assexuado, que não pode, e nem precisa, ter uma relação conjugal. Afinal, quando vem os filhos, o espanto ainda é maior. Se o pai cego sai com seu filho, é comum escutar dizeres como: "ele já leva os pais, vai ser o guia deles, vai ajudar bastante"... como se o pai cego, ou a mãe, não pudesse já ter tido uma vida emancipada antes do filho, ou filhos.

O que as pessoas não conseguem ver são os benefícios que as pessoas cegas podem proporcionar aos demais. Uma pessoa cega pode ser tão prestativa na sociedade quanto alguém que enxerga, basta que as pessoas estejam abertas a trocas e aprendizagem, parar de nos ver como coitados ou heróis, mas nos perceber como seres humanos que podem falhar, errar, magoar, pedir perdão, mas também acertar, crescer, dar alegrias, realizar favores, enfim, um ser humano, com sua diferença e como qualquer outro!

A coisa que mais nos atrapalha é o preconceito.

Esse texto foi escrito para mostrar um pouco da potencialidade de uma pessoa dita deficiente. Serve também para a conscientização da sociedade, que apesar de já ter evoluído significativamente em seu modo de pensar e agir, ainda mostra resquícios de épocas passadas, onde se via a pessoa com deficiência como incapaz, sem qualquer perspectiva. Podemos constatar concretamente que tal visão é totalmente equivocada.

Antes de pessoas com deficiência somos pessoas, seres humanos e como tal necessitamos de oportunidades que nos possibilitem desenvolver habilidades, mostrando assim que somos capazes.

Dê uma oportunidade, conheça antes de julgar!

Faça o papel que todos nós devemos fazer diante o que desconhecemos: devemos pesquisar, conhecer, se interar, sem os tais conceitos pré-estabelecidos. Quando nos deparamos com algo que foge ao nosso conhecimento, ou mesmo, ao dito "padrão", tentamos esconder, deixar de lado. Faça uma pequena parcela neste processo de conscientização, só assim poderemos alçar vôo!

Ajude-nos a mudar esta realidade, torne o exótico familiar, perca o medo de perguntar, se aproxime, pois só assim podemos trocar informações e derrubar certas barreiras, que acabam por impedir a nós "diferentes" de termos uma vida com qualidade em que possamos exercer nossa cidadania plena. Olhe além da deficiência, ou seja, não rotule o indivíduo pelo que ele trás consigo de deficiência e sim acreditar no que ele pode oferecer como ser humano, como um ser social, cidadão, consumidor, igual em sua diferença.

Para nós mesmos é bom saber que, a lagarta quando fica no casulo ninguém dá muita bola, poucos a observam. Mas ao se transformar em borboleta todos a admiram. As pessoas que ficam enclausuradas em suas residências/instituições são conhecidas por poucas pessoas, mas as que voam para outras áreas, fazem com que os outros as observem e comessem também a reconhecê-las como parte deste mundo.