Aprendendo a Ser Mãe de uma Criança com Deficiência.
A maioria de nós tem em casa um motivo de muita alegria, um filhote esperado que chegou de um jeito diferente do que imaginávamos, mas que com o tempo de cada um foi aceito, compreendido e logo amado. Quando estamos com eles sabemos que são crianças com tudo que desejam as crianças: Brincar e aprender.
No prédio em que moro há 14 crianças entre 0 e 4 anos. Vejo suas mães, seus problemas, suas alegrias, suas diferenças!!! É incrível, não penso em como seria feliz se a Laura enxergasse, já sou feliz com ela, com sua graça, seu charme, suas tiradas. Com isso eu não quero dizer que se soubesse que milagres acontecem eu não iria desejar um. Apenas quero dizer que a nossa felicidade não depende disso e sim da nossa cumplicidade, das nossas trocas.
Então , com toda essa riqueza que são os filhos que temos em casa, todos eles são!!! , como lidamos com a opinião dos outros na rua? Elas realmente importam? Por que elas importam?
A Laura só tem dois anos e 4 meses. Isso significa que há 2 anos e 4 meses atrás eu não pensava sobre o assunto, não lia nada a respeito, nada sabia sobre Declaração da ONU ou de Salamanca, nem quem era a Cláudia Werneck, ou o que era a Inclusão Escolar. Tinha a minha vida e os meus problemas para resolver.
e daí que na Bienal do livro em SP, há uns 4 , 5 anos atrás quando fui pela primeira vez não tinha quase nada acessível para pessoas com deficiência visual? E os buracos nas calçadas? E as crianças com alguma deficiência, onde mesmo elas deveriam estudar? Porque eu me preocuparia? Não deveriam ser as escolas, os pais e mães dessas crianças e o Governo ou algumas ONGs a se preocuparem com isso? E se a Laura não tivesse nascido , eu estaria numa lista de discussão na internet? Preocupada com o quê?
Então, vejo que entre a maioria das pessoas que tem atitudes inadequadas diante de alguma deficiência e eu há 2 anos atrás, talvez não haja muita diferença. E isso é o ponto de partida: Entender que muitas atitudes e pensamentos das pessoas são fruto do mais puro desconhecimento a respeito do assunto e não falta de amor, egoísmo ou insensibilidade.
Então cabe mesmo a nós, profundos conhecedores do assunto, porque temos tido nossas "lições de casa", ensinar o que é a deficiência, pelo menos aquilo que já aprendemos. E, com certeza, a melhor forma de "ensinar" , não é fazer discursos, é viver a sua vida da forma como você viveria se não fosse a deficiência do seu filho, é estar sempre atento, fazer apenas diferença no que realmente é necessário. Isso parece óbvio e de fato é , porém precisa ser assimilado, digerido, vivenciado, até que se torne regra na sua vida.
No inicio era dificil para mim os olhares curiosos a respeito da Laura, mas a medida que fui amadurecendo fui percebendo que era normal a estranheza das pessoas, que elas não tinham a obrigação de achar "natural", porque elas ainda não tinham "aprendido", mas eu sim.
Então compreender a reação das pessoas e até achar normal a curiosidade delas me fez aceitar em vez de me enfurecer, e com isso eu fui ficando cada vez mais tranqüila, o que é muito importante para a minha filha, porque eu não a privo de levá-la comigo e também mantenho a calma diante de um comentário desagradável e inoportuno.
Acredito que somos nós, a parte interessada da sociedade neste assunto, neste momento da história, que iremos realizar as mudanças necessárias para que nossos filhos encontrem professores, escolas e empregos preparados para recebê-los de acordo com as suas habilidades.
Não acredito nas leis e nem nas cotas, elas são paliativos , tem o seu papel numa situação de crise, mas não curam, são as pessoas pensando de uma forma diferente que realmente irá mudar para melhor tudo o que está aí e eu faço parte desse projeto, eu quero continuar dizendo, informando, porque eu aprendi e todo mundo pode aprender também. É assim que eu penso.