Revolução Pessoal: Luta pela Igualdade.
Nasci no ano em que se fez a revolução dos cravos em Portugal (1974) e, talvez por isso, tenha dificuldade em ficar passiva face à forma como vou descobrindo como os outros lidam com a deficiência. A minha revolução pessoal é, portanto, lutar pela desmitificação da deficiência visual, a que me coube em sorte.
Para este objetivo talvez contribuam a minha Licenciatura em Psicologia, a minha dissertação de Mestrado sobre a experiência da perda da visão, a reabilitação e as percepções sobre a qualidade de vida, metas que impus para a minha luta e realização pessoal.
Mas, o que certamente contribui é a imensa vontade que sinto em me afirmar como pessoa inteira, numa sociedade que teima em nos lamentar pela nossa condição física, sensorial ou mental. Gostaria de explicar ao mundo esta verdade que me parece tão simples e tão difícil de ser entendida: as pessoas não se avaliam pelo que são fisicamente, mas pelo que valem enquanto pessoas.
Gostaria que os outros não achassem que o meu marido é um super-herói por me ter escolhido para sua companheira de vida, como se eu não merecesse o mesmo amor do que os outros, que não se surpreendessem porque consegui o grau acadêmico que tenho, que não avaliassem como extraordinário o fato de trabalhar no Gabinete de Apoio ao Estudante com Deficiência da Universidade do Minho e que não julgassem que a minha vida se reduz a uma deficiência.
Tenho um filho que, certamente, irá se confrontar um dia com algum colega a dizer-lhe "a tua mãe é ceguinha" e sofro por isso, porque gostaria que o critério fosse apenas o do amor que lhe tenho para ser avaliada pelos outros.
Faço o que posso pela minha luta, com direito a momentos de desespero e esperança, com o trabalho que consigo desenvolver e com o testemunho que procuro dar. Oxalá a luta seja premiada, não com glórias, mas com o respeito e a aceitação de todos.
Sandra Estêvão Rodrigues.