Pessoas com Deficiência Também Radicalizam.
Surfista Cego.
Há mais de dez anos, Valdemir Pereira Correia, 37, "pega onda" em Santos, no Litoral Sul. O fato em si desperta muita surpresa, mas Val - como é conhecido - não é um surfista comum. Cego e portador de um leve problema na perna esquerda, ele mostra que pessoas com deficiência também podem praticar os esportes mais radicais. "Eu não sou um coitadinho. A maioria das pessoas trata a pessoa com deficiência como uma máquina quebrada. No surfe eu consigo provar o contrário", conta.
Ele começou a praticar o esporte dois anos após a perder a visão, problema causado por uma síndrome raríssima e uma sucessão de erros médicos. "Conheci o trabalho da Escola de Esportes Radicais de Santos e decidi começar a aprender", conta. Fundada há 14 anos, a escola é pioneira no ensino gratuito de surfe, longboard e bodyboard no Brasil, para portadores de deficiência ou não.
Com o tempo, ele foi percebendo ajustes que poderiam ser feitos para dar mais acessibilidade na prancha, que hoje é totalmente adaptada. "É a única no mundo. Ela é mais segura e muito mais prática. Me adiantou pelo menos oito anos de evolução", diz Val, que é conhecido entre os companheiros de aula. "Os adolescentes têm aquela idéia do cego com óculos escuros e uma bengala, precisando de ajuda. Quando eles vêem um que sabe surfar, entendem a importância da inclusão", afirma.
Esportes de Aventura.
Superação também é uma constante na vida de Dadá Moreira, 41. Diagnosticado, há 11 anos, como portador de ataxia espinocerebelar, problema neurológico que afeta o equilíbrio, coordenação motora e visão, ele é uma referência quando o assunto é esporte de aventura para pessoas com deficiência.
"Após o diagnóstico, os médicos diziam que eu só pioraria. Como eu sempre quis praticar esportes de aventura, pensei: já que não tem jeito mesmo, vou encarar."
Moreira começou com rafting, depois partiu para o pára-quedismo, para a escalada e não parou mais. Criou a ONG Aventura Especial, que promove a inclusão de pessoas com deficiência no ecoturismo e na prática de esportes de aventura. "Já viajamos para vários lugares e auxiliamos nas alterações necessárias para acessibilidade nas atividades", conta ele.
Em números: 24,5 milhões é o número de pessoas com deficiência no Brasil, segundo dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2000).
500 pessoas adquirem deficiências a cada dia no País.
Jornal da Tarde - 31/08/2007.