Velejar pelo Sensorial ou pelo Visual?

16/03/2008 - Augusto Coelho.

Domingo passado tive uma experiência muito gratificante no Cantão de Indaiá, Bertioga, em um veleiro O'Day 12. Fui convidado para ensinar um casal de cegos a velejar. Todos sabem que para velejar é fundamental visualizar de onde vem o vento, o combustível do veleiro. E então fazemos o barco velejar contra o vento, de lado, a favor. Evidente que não diretamente de onde o vento vem (a chamada zona proibida). Esta região é utilizada para parar o barco, para fazer manobras de atracagem e outras.

Tenho realizado trabalhos com paraplégicos, amputados, pessoas com medo de água, mas todos enxergantes. Deste modo, a didática é baseada na orientação visual. Por isso, antes da parte prática, envio uma apostila por e-mail, com a parte teórica, e explico mais antes de ir para a água. Isto vale para atletas, idosos, jovens, crianças, pessoas com deficientes e todos os enxergantes. Mas neste caso não houve a parte teórica normal, apenas um breve repasse dos conceitos, acompanhado de apalpações no barco, no leme, nos controles, antes de entrar no mar.

Enfim, o ensino foi baseado mais nos outros sensoriais: tato, audição, olfato e talvez mais algum sentido. O resultado foi muito legal. Depois de 75 minutos eles estavam velejando e manobrando em todas as direções. Deram bordos, jibes, fizeram percursos curtos, longos, manobras rápidas, subiram ondas, desceram ondas. Depois de algum tempo só precisaram do enxergante a bordo para orientá-los sobre obstáculos, situações de água, outras embarcações e possíveis riscos. O resultado foi surpreendente, melhor que o conseguido com a média dos enxergantes, que muitas vezes depois de algumas manobras já não lembram a orientação no vento.

O casal de cegos, como todos os enxergantes, não viam o vento; mas o sentiam melhor que estes, e com a sua sensibilidade tátil apurada percebiam muito bem as reações do barco e tomavam procedimentos de acordo. Aprenderam rapidamente a sentir o barco, o que muitos somente descobrem depois de muitas e muitas velejadas.

O casal entendeu celeremente a resposta do vento, tal qual o famoso refrão de Bob Dylan:

"The answer, my friend, is blowing in the wind.
The answer is blowing in the wind.
"

Bons Ventos!


Augusto Coelho - Instrutor de Vela Náutica.
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